Tendo sofrido novo baque emocional pessoal, fiz aquilo que se faz tanto para comemorar quanto para esquecer. Isso mesmo: assistir a um filme e planejar uma viagem. O filme foi Mãe!, que me impactou demasiadamente. A obra, de enredo confuso porém de execução primorosa, nos leva a entrar em contato com camadas profundas da existência, muito abaixo das preocupações com trabalho, quilos extras ou tretas online. O estado de natureza, os instintos básicos de relacionamento, ninho, prole, em confronto com as primeiras camadas de civilização -- a moral, a ética e a etiqueta, as angústias sociais.
Já os vulcões são as entidades que nos relembram que há algo amedrontador sob nossos pés. O sangue da Pachamama, que pulsa independentemente da nossa existência e, principalmente, de nossas ansiedades civilizatórias. Você sabe que vai morrer, mas só quer morrer depois de deixar um legado ao mundo? Que legado? Que mundo? O que a natureza pensa disso quando decide cuspir sangue por seus poros? Às vezes vulcões colapsam e se transformam em belíssimas caldeiras inundadas. Seguem impressionando por sua majestade, porém de forma mais acolhedora. O que esquecemos é que todas as belas paisagens que nos servem de lar são consequência de catástrofes inconcebíveis, começando pelo dia em que uma pedra flamejante se destacou de uma pedra maior e voou pelo espaço. Dadas as devidas proporções, Quilotoa me lembrou Santorini, a ilha paradisíaca resultado de uma erupção que enterrou civilizações, possivelmente dando origem à lenda de Atlântida. Difícil arte esta de aceitar as tolas vontades de nosso estado civilizatório e ao mesmo tempo a submissão à natureza. Não apenas a sujeição à natureza-rocha, mas a nossa própria natureza interior. No caminho para Quilotoa, duas crianças viajavam com um cachorrinho, seus pais nos bancos da frente. Tratavam o cachorro com carinho. Autonomia e afeto, pensei. A razão de meu encanto por filmes como "Meu Vizinho Totoro". Desejos cujo equilíbrio é tão difícil, mas que podem nos guiar adiante. Concluo com minha visita ao Cotopaxi, o vulcão que dá nome à região. Pouco depois da viagem assisti a outro filme que, surpreendentemente, ofereceu respostas bem interessantes à angústia de existir com ansiedades inventadas da civilização em cima de nossos impulsos naturais. O filme foi o "Blade Runner 2049". A resposta: sentir.
2 Comments
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