Alain de Botton, assim como outros palestrantes da plataforma TED, é um comunicador de ideias interessantes acusado pela academia de superficialidade. Não estão errados na crítica, mas talvez no foco. Você não abana a cabeça porque o vendedor de cachorro-quente da esquina não se aprofundou na Alemanha sobre preparação de salsichas, e o fato de Alain de Botton pinçar da filosofia e das artes apenas dicas práticas sobre vivência e convivência não as tornam menos valiosas. Uma dessas dicas, exposta no livro "Desejo de Status", é a de visitar ruínas. Apreciei-a demasiado, não por me incitar um objetivo novo, mas por ressaltar um prazer específico que eu já possuía sem que notasse o tamanho de sua importância para minha visão de mundo. Por que visitar ruínas? Para que o Lulu Santos metonímico possa ser tocado, cheirado e observado em 3D como La Bête: tudo passa, tudo sempre passará. Para inspirar fundo e sentir a morte e a destruição em seus efeitos redentores. Elas também enxurraram embora preocupações de sucesso financeiro ou profissional, orgulhos e vaidades. Tudo acaba. As artes narrativas nos ajudam a apreciar fetichismos, ou seja, a extrair emoções subjetivas vinculadas a objetos ou locais com os quais pessoas (reais ou imaginárias) conviveram. Um tanto em função disso, em contato com ruínas, além da contemplação da impermanência, inevitavelmente imagino histórias. Não apenas a história conjunta de um povo, mas sutis experiências individuais de quem viveu ali. Um grande amor, uma grande decepção; desejos de liberdade, de realizações. Podem ser ancestrais, podem ser recentes. E, com os músculos da imaginação em dia, podem estar bem preservadas ou quase em pó. Estar ali é suficiente para ativar o sentimento. Algo ali foi muito importante, e acabou. Tudo o que nos preocupa passa. Tudo o que é belo passa. Tudo.
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Setembro 2018
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Sobre MimRodrigo Bahia, carioca que alterna carreira jurídica mundo afora com os prazeres e descobertas da filosofia e da literatura.
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